“Ser ou não ser, eis a questão.” A icônica frase de William Shakespeare em Hamlet, escrita séculos atrás, reflete uma dúvida existencial que atravessa o tempo. Adaptando esse dilema à nossa realidade, poderíamos aplicá-lo à dinâmica do mundo digital, onde as redes sociais moldam interações e impõem a necessidade constante de pertencimento e presença online.
Uma grande discussão sobre o assunto começou semanas atrás, quando João Guilherme comemorou os 23 anos de idade e contou com a presença da família, incluindo a cunhada Virginia Fonseca, e a namorada, Bruna Marquezine. Enquanto a primeira, como é de seu feitio, publicou a torto e a direita, a atriz fez o contrário e não movimentou o seu Instagram.
A relação distinta com a ferramenta gerou discussões, que foram de críticas a elogios. Visando entender a situação, o Metrópoles buscou ambos os lados, aqueles que se encaixam no mesmo universo de Virginia e outros que se pautam em Marquezine.
O que dizem os especialistas
Para Guilherme de Angellis, doutor em comunicação, é importante lembrar que os dois modos de utilizar as redes sociais e suas ferramentas são voltadas às atividades profissionais de cada nicho. Entretanto, motivos e maneiras com as quais são utilizadas são diferentes, assim como os objetivos.
Di Angellis explicou que uma atriz, por exemplo, nem sempre tem o intuito de ser uma influencer e conta com outras ambições profissionais. “Mas ela sabe que vive em um mundo em que, a partir do momento que ela tem seguidores, que é muito falada, que as redes sociais dão visibilidade, abre portas para novos trabalhos e também para melhores cachês”, pondera.
Já para uma influencer, por exemplo, o propósito também é ganhar dinheiro, mas com estratégias diferentes. “Os stories vão dar audiência, vão gerar seguidores, e quanto mais seguidores, mais se consegue, não só ter mais anunciantes, como cobrar mais caro por conta da visibilidade”.
Issaaf Karhawi, mestre e doutora em Ciências da Comunicação, se dedicou a estudar esse mundo e publicou o livro De Blogueira a Influenciadora (2020), em que explorou a diferença entre a atuação de jornalistas e blogueiras de moda. A profissional detalhou que a atuação de uma influencer tem começo, meio e fim nas redes sociais, enquanto uma atriz ou cantora, por exemplo, faz dessa ferramenta um caminho para a sua arte, seja na televisão, no cinema ou no teatro.
“O que elas têm em comum? A visibilidade mediática. Todo mundo conquistou muita visibilidade midiática por conta das plataformas, mas a história de origem é diferente, a apropriação é diferente, a atuação profissional é diferente”, declarou.
Embora o número de seguidores seja relevante nas redes sociais, Issaaf destaca que a questão vai além, estando mais relacionada à plataformização — ou seja, à forma como essas plataformas moldam e influenciam nossas dinâmicas.
“O ponto é que os influenciadores estão inseridos integralmente nessa lógica da plataformização. Eles sabem como utilizar as dinâmicas das plataformas. Porque o importante na carreira de um influenciador é conquistar muita visibilidade digital e isso significa ter muitos seguidores, porque é isso que é moeda para eles. O que uma atriz entrega no mercado de trabalho está em outro lugar”.
Ainda sobre o assunto, Issaf destaca que vivemos em uma era de imperativo de visibilidade, que nos obriga a ficar o tempo todo conectados, publicando para se ter relevância na web. Entretanto, pessoas como Bruna Marquezine, Rihanna e Beyoncé, por exemplo, fogem desse padrão se apropriando de uma invisibilidade para dar, ainda mais ênfase, em sua área de atuação.
O perfil dos low profiles
Eduardo Costa, por exemplo, é um cantor que se apropria mais das plataformas para divulgar o seu trabalho na música. Ele explicou, em entrevista, que gosta de compartilhar um pouco de sua vida, como momentos em família, na fazenda, animais, mas que esta é uma época muito diferente de quando iniciou a sua trajetória na música.
“Gosto de criar conteúdo musical, fazer um som e postar, gravar um vídeo cantando músicas que não foram bem aproveitadas, que os fãs gostam bastante, os clássicos. Eu tento mostrar momentos bacanas, posicionamentos, ideias, reflexões, posto aquilo que acredito que seja bom para as pessoas conhecerem de quem eu sou, do Eduardo Costa”, disse.
Já Bruno e Marrone possuem uma carreira consolidada, com mais de 30 anos de estrada. Quando começaram, a ideia de um mundo tão conectado ainda era distante, mas, ao longo dos anos, conquistaram um público fiel que os acompanha até hoje.
Para Marrone, há uma particularidade em relação à maioria de seus fãs: a maioria pertence a outra geração, acostumada a ouvir rádio, assistir à televisão e frequentar shows. No entanto, o cantor afirma que os mais jovens também já se habituaram ao estilo da dupla.
Bruno & Marrone e Eduardo Costa não veem a nova dinâmica digital como um obstáculo para a carreira, mesmo sem expor tanto a intimidade. Eles concordam que, ao compartilhar momentos nas redes, escolhem apenas o que os deixa confortáveis, embora reconheçam uma certa pressão para publicar conteúdos mais descontraídos. O trio ainda recebe o apoio de Hugo, parceiro de Guilherme, que, ao contrário do colega, opta por não ter redes sociais.
E os postadores?
O cantor Luan Pereira passou a utilizar as redes sociais para, também, fazer conteúdos de humor diverso. Como fã deste universo, ele entendeu que seria interessante mostrar a sua faceta engraçada e a profissional. “No início, eu nem imaginava que teria tanto retorno, mas foi um sucesso e acabei criando uma identidade nas redes, com bastante humor, que o público adora”, declarou.
Ele acredita que essa atuação seja uma extensão dos palcos e que as redes sociais contam com um papel fundamental para qualquer artista hoje em dia. Luan conta com uma estratégia para manter o Instagram sempre alimentado com outros conteúdos fora do show ou da música. O importante é não perder o foco na música, mas também entender a importância de estar presente no digital”.
Gustavo Tubarão nasceu na internet e se consolidou com o passar dos anos. Hoje, ele soma milhões de seguidores e, apesar de ter quebrado a parede das redes sociais, ainda permanece focado em construir conteúdo para o seu público. Ele explics que a construção de seu nome foi orgânica e que, apesar de fazer inúmeras publicações, mantém uma coerência com o que seu público.
“Muita gente gosta do conteúdo que a gente cria, mas acho que a grande maioria se identifica comigo. Também tem um público que simplesmente acha interessante essa rotina e acompanha por curiosidade”, descreveu.
Sobre a relação entre seguidores vs. marcas, ele acredita que a quantidade de seguidores também impacta, mas que a imagem do influencer também é levada em conta, dependendo do que essa empresa busca para o seu produto.
“Para mim, a quantidade de seguidores não conta. O que realmente importa é a mensagem que a marca quer passar e qual a finalidade daquilo. Existem influenciadores para todos os nichos, então mais do que os seguidores, o que importa é o engajamento e a imagem”, completou.
Quanto à maneira que administra o seu conteúdo, Tubarão explicou que antes se via sob uma pressão de fazer publicações todos os dias, mas que hoje não é mais assim, visando qualidade em relação à quantidade e apesar de manter constância.