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O Normal é Ser Diferente

O tititi corria solto no Hospital da Osego em Miracema do Norte-GO. O ano era 1978. Nascera lá um menino com certa alteração na morfologia externa, um raríssimo caso de difalia. O médico que o pegou, apalpou-o e não notou mal funcionamento nas duas genitálias. O guri chorou, mamou, fez pipi, tudo, tudo que um bebê normal faz. Cumprindo o protocolo, o dr. Mundico de Alcântara e Silva, médico experiente, orientou a mãe para levá-lo a um centro com maiores recursos, objetivando fazer uma ressonância magnética, no que, prontamente… não foi atendido.

A enfermeira que deu o primeiro banho, sem poder evitar a comparação, constatou: “Enquanto o marido lerdo que eu tenho em casa mal tem um, quase escondido de tão mixuruca, e ainda passa a noite roncando, essa bela criança nasceu com dois e são bem avantajados. Eita riqueza, vai fazer muito sucesso.” Quando da liberação da parturiente, o dr. Mundico, pensativo, ainda comentou: “Se o normal é ser diferente, essa criaturinha é pra lá de normal, pois é muito diferente.”

Todavia, as coisas não são simples assim: Na escola sofreu “bullying” e até o apelido de Bibráulio nele foi colocado e depois reduzido, ainda maldosamente, para “Bi”. De Enzo, o nome moderninho com que os pais o batizaram, era chamado somente pelas professoras e pelas meninas mais recatadas.

Aos quinze anos, salpicado de espinhas, trancava-se no banheiro e como um bom percussionista quase ficou ambidestro e ligeiramente corcunda de tanto derrear-se, usando ambas as mãos, “homenageando” as duas coleguinhas mais bonitas do ginasial, entregando ao sacrifício do ralo, sob o chuveiro, alguns milhões de brasileirinhos ejetados nos esguichos do gozo solitário. Lamentava pelo fato dos prazeres virem juntos, jamais em sequência. Era uma só explosão.

A empregada doméstica, cinco anos mais velha, de coxas roliças, cobertas por pelos loiros à base de água oxigenada, não queria perder a oportunidade de fazer a iniciação, até por curiosidade, de um menino tão diferenciado. “A porta do meu quarto fica encostada, entendeu?” Claro que entendeu! Ela queria, porque queria, desvirginar o rapaz incomum. Sabia que a namorada tímida, mais cedo ou mais cedo ainda, poderia chegar antes dela.

Depois das 23 horas, na calada da noite, lá estava ele. No outro dia, ela, saciada e gratificada, feliz, lavou pratos e panelas cantarolando junto com o seu radinho de pilha. O rapaz, aliviado pela estreia de sucesso, concluiu que as portas do mundo se abriram para ele.

A namorada, depois de cumprir o velho e defasado protocolo cultural de não dar no primeiro encontro, entregou-se no segundo. Entretanto, estranhou a desenvoltura do suposto iniciante.

Com os seus instrumentos de diversão sobre a púbis, em paralelo, que nem dois dedos da mão, só que agigantados, ele, já confiante pela experiência adquirida com a doméstica, orientou sua namorada para deitar-se de lado e na posição “tesoura na tesoura”, conforme se diz no Rio Grande do Sul, ou “forquilha com forquilha”, segundo os maranhenses, fez a sua festa. Naquela posição, a mais confortável, de melhor encaixe, ele poderia trabalhar no sentido longitudinal da xanaína dela, segundo ele. Deu certo! Enzo não queria deixar nenhum dos seus “rapazes” do lado de fora e os dois, alegremente, divertiram-se no vaivém dos quadris em movimento.

A mãe de Enzo, o Bi, percebendo a movimentação noturna na casa e vendo o filho sonolento ao longo do dia, demitiu a empregada. Esta, foi embora em prantos, jogando catarro nas paredes. Apaixonada e conversadeira, deu com a língua nos dentes, explicando, com pormenores, o impagável desempenho do jovem. Isso, muito serviu para crescer a fama de Enzo, tornando-o o Casanova da pacata Miracema do Norte-GO.

Certas parceiras, muito o apreciavam. Outras, desconforto sentiam e dele pediam apenas cinquenta porcento do que tinha a oferecer, o que já não era pouco. Algumas, de tão fantasiosas e voluptuosas, pediam o serviço completo, que ele ocupasse a sala e a varanda ao mesmo tempo.

Por um período de dois anos uma divorciada fez dele um quase escravo sexual, mas uma concorrente o tomou depois de com ela rolar pelo chão, com direito a cabelos arrancados e caras azunhadas. Alguns gays até se insinuaram, mas ele não fez incursões nesse universo. E explicava o motivo: ” Não posso deixar nenhum dos meus rapazes de fora. Ou entram os dois ao mesmo tempo, ou nada feito!” Puro preconceito, pois em fêmeas, por muitas vezes, aceitou atuar com os cinquenta porcento.

Já aos 25 anos envolveu-se em um relacionamento mais consistente e mudou-se para Goiânia com a nova parceira. Seu primeiro filho, também, nasceu duplicado, com difalia. Enzo, então, olhando para o bebê, falou: “Você não vai passar pelo que eu passei, embora o saldo seja positivo. Você não vai ser gigolô, não vai ser ator de filme pornô. Vai ter que estudar.” Hoje, com 46 anos incompletos, durante os quais sentiu a dor e a delícia de ser o que é, em conformidade com os versos do poeta Fernando Pessoa, está tentando, agora, contato com o renomado biógrafo Ruy Castro para publicar um livro com sua história. E tem! Tem muito o que contar!

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JOSÉ EPIFANIO PARENTE AGUIAR

Sou um Baby Boomer, portanto um véi esquisito para as gerações X, Y, Z e um monstrengo para a geração Alfa.

 

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