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O dia em que Amazonino recebeu um não

No ano de 1988, a linda cidade de Maués, situada a margem direita do Rio Maués Açu, distante 268 km, em linha reta, e 356km, pela via fluvial, de Manaus, cansada de viver sob o jugo e a opressão de uma dinastia política que se arrastava no poder da administração pública por 25 anos, decidiu se unir em torno de algumas poucas lideranças comunitárias e religiosas e foram bater de frente contra àquele “sistema”.

Sob a liderança de Darcy Michiles(foto abaixo), esposo da senadora Eunice Michiles, reuniram alguns poucos partidos políticos que acreditavam na mudança, e buscaram o competente fazendeiro e produtor de guaraná Luiz Macêdo Cavalcante, o Luiz Canindé, dono de um carisma e integridade moral acima de qualquer julgamento. Luiz Canindé era o nome que precisavam para retirar do poder o grupo que comandava a política local, como dito acima, havia mais de 25 anos.

Canindé era avesso a política, e embora seu genitor tenha sido vice-prefeito da cidade décadas atrás, preferia se ater a seus bois, cavalos, terras e mudas de guaraná.

– EU TOPO A PARADA, disse Canindé para o insistente grupo que o queria na prefeitura.

Passado algumas semanas, pesquisas já indicavam que Luiz Canindé ganharia a eleição. 

Vindo a capital, o candidato procurou o governador da época, Amazonino Mendes, e pediu para “tirar uma foto dos dois juntos para confecção de material de campanha”.

Naquela época, um candidato que aparecesse abraçado ao governador em um cartaz ou panfleto eleitoral era meio caminho andado.

– Não posso tirar foto com você caboclo porque já tirei foto com o Carlos Esteves (governou Maués por três mandatos), e tu caboclo velho, desculpe a franqueza, mas tá feito nessa disputa. Feito besta, disparou.

Canindé volta pra Maués e recomeça, dessa vez no interior das mais de 160 comunidade rurais do município, sua campanha rumo à prefeitura. De alguma forma, a negativa do todo poderoso Amazonino Governador mexera com seus brios, com seu sentimento de amor-próprio, sua honra e dignidade. 

Não deu outra. Faltando 30 dias para as eleições, Amazonino manda chamar Canindé ao Palácio Rio Negro.

– Caboclo, tu tá bem pra cacete. Vejo aqui as pesquisas e tu já ganhou essa eleição. Dá cá um abraço e vamos lá tirar uma foto!, disse mirando o fotógrafo oficial do governo, Heraldo, e ajeitando a gola da camisa.

Ao que Luiz Canindé, caboclo tinhoso de Maués que trabalhara com o pai desde muito jovem, retrucou:

– Não vou tirar foto com o senhor porque agora não preciso mais, além de que o senhor não apostou em mim. Vou precisar de vossa excelência quando eu for diplomado prefeito de minha cidade e aí sim voltarei a lhe procurar não por mim, mas sim pra saber o que o senhor pode fazer pelo povo de minha terra, que, aliás, sua digna esposa é filha de lá, disse Canindé sob o olhar aflito de assessores do governador e do próprio Amazonino.

– Telogo, governador! Nos vemos após a minha vitória.

 

Luiz Macedo Cavalvante ganhou as eleições com o slogan “Vamos dar as mãos”. A vitória foi histórica e com larga diferença de votos. Seu coordenador de campanha, e quem preparava os comícios relâmpagos nos bairros(naquela época era novidade), era Sidney Leite, hoje deputado estadual, e que também já comandou a prefeitura de Maués, eleito que foi, por três mandatos.

Luiz Canindé, como é conhecido, tem hoje 64 anos e “lenha ainda pra queimar”, como ele diz. Se será candidato a prefeitura de Maués neste ano de 2016 só o tempo dirá. 

 

ERA 1988.

Marcelo Guerra / Jornalista MTB 492/AM – MBA Administração Pública
E mail: [email protected] 

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