Evandro Leitão (PT) foi eleito prefeito de Fortaleza (CE) na disputa mais acirrada entre as capitais. Ele concorreu com André Fernandes (PL) e levou a cadeira com 50,38% dos votos. A diferença entre os candidatos foi de 0,8%, o que representa 10.838 votos. A vitória foi a única do PT em capitais e carrega importância política e simbólica contra o avanço da extrema direita no estado e no Nordeste.
“A vitória é muito significativa para consolidar a hegemonia do PT e aliados no Ceará”, afirma Leidiano Farias, militante do Movimento Brasil Popular (MBP). O partido elegeu 47 prefeitos no estado, além de comandar o governo cearense, com Elmano de Freitas.
Em termos políticos, Farias aponta que Camilo Santana, ministro da educação do governo Lula, sai fortalecido como um nome nacional do partido. “Camilo foi governador e elegeu seu sucessor, Elmano, e agora foi apoiou Leitão para a prefeitura. Com a vitória, se projeta a nível nacional não só no PT, mas no campo progressista, como liderança emergente”, diz o militante.
O governo Leitão estará sob o escrutínio nacional por ser o único do PT, acredita o integrante do MBP. “É importante fazer um bom governo, e o alinhamento entre prefeitura, governo do estado e governo federal é importante para viabilizar políticas públicas e fazer as entregas que a população almeja.”
Farias avalia que a vitória deve ser comemorada como um campo de contenção à extrema direita, mas pontua que os partidos devem refletir sobre o avanço do bolsonarismo na região. “Bolsonaro ainda tem uma rejeição muito alta no Ceará, tanto que Fernandes não usou a imagem do ex-presidente. Bolsonaro não foi a Fortaleza durante a campanha”, diz Farias.
Ele explica, no entanto, que a campanha de Leitão foi hábil em colar a imagem de Bolsonaro a Fernandes, o que ajudou em sua derrota. Ainda assim, a votação expressiva do candidato do PL gabarita esse campo político no posicionamento para o processo eleitoral de 2026.
Derrota de Ciro
Entre os grupos políticos do Ceará, o maior perdedor parece ser o de Ciro Gomes (PDT). O partido elegeu apenas cinco prefeitos no estado, além de ter amargado uma votação baixa no primeiro turno de Fortaleza: José Sarto, atual prefeito da cidade, ficou em terceiro, com 11,75% dos votos.
“O núcleo duro do grupo (de Ciro) sai derrotado, porque optou por apoiar a extrema direita. O maior motivo para esse movimento é a tentativa de sobrevivência política”, diz Farias. “Se Leitão, apoiado por Camilo Santana, vencesse, o ministro teria uma grande hegemonia no estado.”
A imagem de Ciro também sai chamuscada. “O PDT fez um grande desserviço em direcionar parte do seu eleitorado para as propostas da extrema direita, que nega tudo o que Ciro já defendeu”, afirma o militante.
Em sua fala após a vitória, Leitão se referiu indiretamente ao grupo político liderado por Ciro Gomes e citou “arrogância” e “prepotência” dos adversários. “A arrogância precede a queda. Nós derrubamos todos os arrogantes desse estado. Todos eles se juntaram e Deus quis que todos caíssem pela sua arrogância, pela sua prepotência. Para essas pessoas arrogantes, prepotentes: o povo deu a resposta nas urnas.”
Já o senador Cid Gomes (PSB-CE) segue como personagem relevante no estado. Seu partido, o PSB, levou o maior número de prefeituras no Ceará – ainda que a derrota em Sobral para Oscar Rodrigues (UB) seja significativa, já que a cidade é o berço político dos Ferreira Gomes.
De acordo com Farias, Cid segue em alinhamento com Camilo Santana, ainda que com contradições.
Edição: Nicolau Soares