Um reconhecimento para a luta negra contra a escravidão. André Rebouças, um dos primeiros engenheiros negros do país e um dos mais importantes articuladores do movimento abolicionista brasileiro, acaba de ter o nome inscrito no livro dos Heróis e Heroínas da Pátriadepositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A lei foi sancionada nesta quarta-feira (16) pelo presidente Lula.
Criado em 1992, o livro reúne protagonistas da liberdade e da democracia, que dedicaram suas vidas ao país em algum momento da história.
Antonio Carlos Higino da Silva, historiador e autor dos livros André Rebouças no Divã Frantz Fanon e O Cocheiro do carro do progressodestaca que embora tardio este reconhecimento é de grande importância.
“Embora seja um reconhecimento tardio, ele vem corrigir essa imagem que ficou de que o André Rebouças era um monarquista, que desistiu do país, fazendo seu autoexílio ao sair junto com a família imperial ao fim do segundo reinado, ao sair do país. Na verdade, essa não era a perspectiva de entendimento do Rebouças. Ele sai por entender que a República nasce de um movimento revanchista, de uma elite escravocrata, que não aceitou o fim da escravidão sem indenização no Brasil”.
Já o professor de história do Instituto Federal do Paraná, Jorge Santana, acrescenta que a inclusão no livro é uma forma de contestar preconceitos antes presentes na obra.
“É um fato muito importante porque foi um livro que durante muito tempo só tinha a presença de heróis brancos da historiografia tradicional brasileira e que excluía outros grupos sociais como negros, indígenas e também as mulheres”.
Ele reforça ainda que a historiografia tradicional muitas vezes apagou heróis negros da luta abolicionista.
“É importante dizer que na história da abolição foi atribuído à princesa Isabel o mérito de ter abolido a escravidão e foram apagados diversos heróis e abolicionistas negros como Luís Gama, como José do Patrocínio e o André Rebouças”.
Um dos trabalhos de destaque de André Rebouças foi a construção original do Armazém Docas Dom Pedro II, onde foi instalado o antigo Cais do Valongo. Antonio Carlos Higino explica que a atuação de Rebouças nesse projeto foi inovadora para a época.
“É nesse projeto de Docas Dom Pedro II, todo pensado exclusivamente pelo Rebouças, em que ele se esforçou em não ter mão-de-obra escravizada, em que ele se esforçou em constituir proteção social para os seus trabalhadores”.
Entre os grandes nomes inscritos no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria estão Tiradentes, Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares e Machado de Assis.